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Umarizal: Cidade pacata ou violenta? Perspectiva de uma nova realidade.

Este é um artigo de opinião fruto de um trabalho desenvolvido por estudantes umarizalenses e que mostra dados, estatísticas e outras informações acerca da violência em Umarizal nos últimos anos e a paz conquistada através de um trabalho de pacificação desenvolvido pela polícia junto a população. O trabalho foi coordenado pelo professor Thayrone, e desenvolvido pelos estudantes Mara Alice Batista dos Santos e Pedro Bores Cândido de Oliveira Mesquita.

Confira:


Resumo: Este artigo tem por objetivo buscar refletir e discutir acerca da violência presente na cidade de Umarizal em determinado período, na transição de uma cidade até então pacata para violenta, e depois para pacata novamente, assim como analisar a construção de um trabalho de pacificação intensa, envolvendo população e polícia lado a lado, visando o crescimento e o sossego da cidade, e o reconhecimento tão merecido nesse sentido.

Reflexão diante a violência inserida na cidade de Umarizal.

Há aproximadamente dois anos atrás, a cidade de Umarizal era como nunca, foco de grande parte da mídia estadual, e nacional, quiséssemos nós que fosse por motivos favoráveis e úteis, mais infelizmente tratava-se de um grande surto de violência que apavorava toda a população.

Nesse sentido, tínhamos aqui uma situação completamente fora do contexto. Uma cidade considerada até então pacata, tranquila, torna-se o polo estadual de violência, considerando o número de habitantes, onde sequências de roubos, furtos e homicídios eram realizados em um curto período de tempo e espaço.

Socialmente pensando, passávamos por um processo intenso e duro de marginalização, onde ferramentas importantes como a educação passava despercebidas diante de tantas ocorrências. Adultos e principalmente jovens eram os personagens principais dessa onda violenta presente na cidade, impulsionados pela ideia de “dinheiro fácil”, e pela febre do consumismo, onde você vale o que você tem, gerando uma verdadeira corrida pelo “luxo”, dinheiro e ostentação.

Com um quadro de violência jamais visto na cidade, as dificuldades nas vidas das pessoas eram imediatas; a cultura de ao final da tarde sentarem em suas calçadas foi aos poucos sendo substituídas por aquela em que as portas de suas casas deveriam passar todo o dia fechadas, evitando assim um possível roubo, fato menor se comparado ao vazio nas ruas a partir do horário das 20:00 horas da noite, um verdadeiro deserto.

Sob esta ótica, pensando em tentar entender como uma cidade transita de pacata para violenta de uma forma tão rápida, foi promovido na Escola Estadual 11 de Agosto, no segundo semestre de 2014, um projeto discutindo essa temática. Um professor de história junto sua turma de 3° ano do Ensino Médio traçaram um caminho através de fontes, e logo após os resultados foram expostos em uma verdadeira mesa redonda, onde posicionamentos e direcionamentos abriram caminhos para inúmeras outras problemáticas dentro da sociedade e realidade vivenciadas.

Embasados por fontes oficiais, como registros e boletins de ocorrências, dados do IBGE, documentos, por fontes secundária como entrevistas, manchetes de jornais e blogs, o grupo apresentou um trabalho interessante e intenso, trazendo à tona elementos importantíssimos para a discussão sobre violência, e a realidade vivenciada por quem mais sofre com tudo isso, os familiares, as pessoas que perderam seus entes queridos através de atos violentos.

É importante pensar então que a escola é detentora e deve discutir qualquer problema social e cultural vigente na sociedade da qual está inserida. A figura do Professor pode e deve interferir no meio, através de discussões e reflexões acerca disso, buscando sempre análises críticas e soluções para qualquer e todo tipo de problemática, dando a credibilidade e confiança para que seus alunos discutam e apontem posicionamentos.

O processo de pacificação começa a ser efetuado e fluente principalmente no segundo semestre do ano de 2014, onde o trabalho da polícia era algo plausível, diante tanto perigo, a postura de compromisso foi fundamental para essa etapa, começa aí uma nova realidade de vida, vivenciada dia-a-dia pelos moradores da cidade.

O ano de 2015 começa, e a virada na realidade da cidade acompanha um processo duro e intenso de pacificação, onde o trabalho da polícia é árduo, e a população começa a acordar, contribuindo para a amenização do problema. Nesse sentido o objetivo aqui é compactar a virada desta realidade, numa oposição e oscilação deste processo de caos e calmaria, acompanhado por outros elementos que serão discutidos adiante, fundamentais para a construção social, cultural e crítica desta temática.

Dados e Gráficos

A pesquisa teve como fonte principal, os dados do IBGE, delegacia de polícia civil do município, CRAS e conselho tutelar. A partir disso se pôde realmente constatar que o índice de violência urbana aumentou em uma escala que chegou a ser alarmante.

Pelo fato de ter ficado no topo duas vezes, como a cidade mais violenta do estado, em um curto período de tempo, o lugar se tornou um grande alvo da mídia, tanto em território municipal, como estadual, e até mesmo nacional.  Dessa forma, Umarizal deixa de ser vista com uma cidade pacata, e passa a ser vista como um lugar aterrorizante. Nota-se que os números são a comprovação do descaso por parte da Secretaria de Segurança do Estado.

No entanto, com o trabalho atuante da polícia no município, os números de casos de todos os segmentos, no ano de 2015 diminuíram com podemos perceber nos gráficos abaixo:


Fonte: Polícia Civil

Em relação ao número de homicídios, é notável a enorme diferença entre os anos anteriores e o ano de 2015. Apesar dos dados do corrente ano, se limitar até o mês de maio, a distinção dos ocorridos divididos mensalmente é bastante evidente. Pois justamente, o mês de maio que foi o de maior incidentes em 2014, ano que o lugar recebeu pela segunda vez, a intitulação de cidade mais violenta do Estado, não se repetiu em 2015.


FONTE: Polícia Civil

Além do mais, ao analisarmos os ocorridos que foram divulgados pelo blog Umarizal News, e compararmos com os da polícia Civil, podemos notar claramente que depois do trabalho eficiente da polícia, a população passou a confiar mais, e assim efetuar as denúncias com mais frequência.


FONTE: Blog Umarizal News


FONTE: Polícia Civil

E agora? Por que depois de passada a onda de violência da cidade, nada mais repercute nos meios de comunicação acerca dela? Por que a pesquisa que colocou o município nas posições mais elevadas em relação à violência do Estado, não foi realizada esse ano? A população reconhece o trabalho eficiente da polícia. Mas, e o Governo?

Análise de uma verdade oculta.

A mídia assim como todo e qualquer veículo de informação, é responsável por grande parte do conhecimento e interesse das pessoas, com auxílio da internet notícias se espalham em questão de segundos, o que pode ou não trazer benefícios. A integridade de determinados elementos muitas vezes é contaminada e repercutida, como é o caso da cidade Umarizal no seu auge da violência.

Apropriando-se do conhecido ditado popular de que notícias ruins se espalham rápido, e de que sempre dizemos aquilo que nós convém, sejamos críticos e passemos a perceber que agora, nada mais se fala sobre a problemática tão intensa na cidade de Umarizal, nem sequer os avanços e a diminuição da violência, prova disso é que no último levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública e da Defesa Social – SESED, publicada no dia 03 de junho de 2015,  a cidade de Umarizal não foi citada, fazendo parte do levantamento a redução da violência nas cidades polos do Rio Grande do Norte, como Natal, Mossoró, Parnamirim, Caicó, Assú e Pau dos Ferros.

A ausência da cidade neste levantamento, assim como por parte de outras veículos na mídia, representa a negação de uma realidade diferente, de uma cidade que cotidianamente luta para ser reconhecida e vista com bons olhos novamente, mesmo diante tanto preconceito sofrido pelos habitantes da cidade, que diariamente eram alvos de piadas como as do tipo: “você mora em Umarizal? Aquela cidade que só tem bandido?”

A repercussão da cidade sob ótica negativa foi tão intensa, que os próprios habitantes ressoavam este mesmo discurso, fazendo disso uma “verdade”, algo que soa como algo natural da boca da pessoas, chegando a fazer parte do ciclo cultural da cidade, por se tratar da construção de uma identidade. É preciso reconhecer e repercutir o outro lado da história, aquele que preserva e defende a cidade e sua população.

Polícia e População, uma relação de heroísmo.

Desde muito tempo, principalmente no Brasil, a relação entre sociedade e polícia oscila entre amor e ódio, num processo onde devemos considerar as fases da sociedade brasileira e os acontecimentos em torno desde espaço. Nesse sentido a violência apresenta-se num aspecto costumeiro, de várias formas. As pessoas principalmente passaram a omitir e desconhecer pequenos atos de violência que num futuro próximo gerariam outros bem maiores. A polícia então aparece como uma instituição reconhecida de caráter combativo, que objetiva o cumprimento da lei e o bem-estar social, pertencente a um serviço público destinado a oferecer segurança e proteção do cidadão, assim como da estrutura física social.

Pensar numa cidade pacata, tranquila, requer de nós a ideia de um policiamento eficaz, atuante e severo no sentido do cumprimento do bem-estar social e das leis, porém é preciso considerar que o desafio da Polícia Militar presente na cidade é bem mais complicado do que se imagina, as dificuldades vão do essencial ao básico, do social ao estrutural. Seria a polícia nessas condições, sem efetivo e estrutura responsável pela transição de uma cidade tranquila para violenta?

Teoricamente diríamos que sim, porém a proporção e complexidade de diversos atos e práticas violentas ou criminosas eram bem maiores. Diante todo o medo e temor explícito na cidade, a entrada em ação da Polícia Civil soou como esperança aos ouvidos dos habitantes de Umarizal, diante do status de cidade mais Violenta do Rio Grande do Norte.

O trabalho de pacificação e combate ao crime começa a ser feito, nos primeiros meses foi possível perceber o quanto a situação era alarmante, considerando casos que vária desde o tráfico de drogas á matadores de aluguel, começava a ser de conhecimento da população fatos desconhecidos, crimes desvendados, que até então eram omissos. Seria o começo de um período que podemos denominar de “Pacificação”.

Tudo isso porque a cidade começou a ser modificada culturalmente e socialmente. Os habitantes passaram a entender e obedecer de certa forma as leis, as ordem advindas da polícia, seja num aspecto de segurança, como a adoção do uso do retrovisor, até um aspecto cultural, como a não destruição e vandalismo em espaços públicos, que até então eram frequentes na cidade. Seriam esses os heróis de toda essa problemática?

Segundo Olgária Mattos: Por extensão, é herói todo combatente, nobre por nascimento e consanguinidade, pela coragem e talento. (1994, pág. 84). Poderíamos então nos apropriarmos desta passagem e refletirmos todo um trabalho de um grupo que lutou e ainda continua lutando pela paz e sossego de uma cidade que até então estava no topo da violência.

A construção da ideia de heróis parte de uma memória coletiva, visível através do reconhecimento e comprometimento para com os agentes policiais. Prova disso foi a grande mobilização feita pela população contra o burburinho da saída e transferência de alguns deles para outra cidade em janeiro de 2015. As pessoas saíram ás ruas pedindo e impondo a permanência deles na cidade, fato que só comprova a eficácia de um trabalho intenso.

Outro fator relevante para entendermos a relação entre população e polícia, e este sentido de heroísmo que o cerca, é o fenômeno chamado “O Caçador”, que hoje culturalmente é personagem fluente na cidade, conhecido e reconhecido até pelas crianças, o agente Erick Guerra, nome verdadeiro, aos poucos conquista seu espaço e realiza diante a população uma relação de superproteção, carisma e execução de um excelente trabalho.

É possível acreditar que o mérito do fim de toda essa fase de violência na cidade, deve ser dado a relação entre população e polícia, que juntas podem e conseguem ser bem mais fortes, quebrando barreiras e fazendo de Umarizal uma cidade segura, pacata como antes.

Considerações finais:

Diante todas as abordagens contidas nesta pesquisa, concluímos que grandes avanços e méritos obteve a cidade desde o trabalho de pacificação até os dias atuais.Contudo ainda é preciso ter por parte da população maior empenho e dedicação, visando melhorar a imagem da cidade.

Assim como os lados negativos da cidade foram expostos, é preciso o agora reconhecimento das instituições pertinentes, afim de transmitir ao público uma ideia de cidade nova, modificada, calma e pacata como antes. É obvio que problemas vão sempre aparecer, afinal, é algo natural de qualquer e toda comunidade, mas que fique claro: Em Umarizal, a Segurança Pública funciona.

A cultura que se firmou de Umarizal como uma cidade violenta, de bandidagem, aos poucos vai se extinguindo, dando lugar aquela terra que tanto acolhe e recebe as pessoas. Nada mais justo agora, do que lutar pelo reconhecimento, por parte da mídia e da Secretaria de Segurança do Estado, da mudança pacificadora que a cidade vem vivendo.  A população e a polícia merecem, e devem receber o prestígio daquilo que foi realizado no município. Sabendo que, não foi um trabalho qualquer e em vão, e sim, um trabalho que teve como principal objetivo, a valorização da vida, da sociedade e da cultura de um povo.

Referências Bibliográficas:

MATOS, Olgária Chain Féres. Construção e desaparecimento do herói: uma questão de identidade nacional. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 6(1-2): 83-90, 1994 (editado em jun. 1995).

CHAUI, Marilena. (1992) Mídia e democracia. Aula inaugural. São Paulo,Departamento de Filosofia, FFLCH-USP (mimeo).

AGUIAR, Flávio. (1985) Os enredos da cultura brasileira. Revista do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Secretaria da Ciência e Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, ano II, nº 4. Apud CARDOSO, Irene Ribeiro de Arruda. (1988) Os acontecimentos de 1968. Notas para uma interpretação. In: SANTOS, Maria Cecília Loscchiavo dos. Maria Antonia:uma rua na contramão. São Paulo, Nobel.

Link: http://portalbo.com/materia/Secretaria-de-Seguranca-afirma-que-violencia-diminuiu-no-RN-pela-primeira-vez-em-cinco-anos.
Link: http://uzlemfotos.blogspot.com.br/2015/04/cacador-umarizal-hoje-e-uma-das-cidades.html

UMARIZAL-RN
JUNHO DE 2015


Palestra e apresentação do projeto na Escola Estadual 11 de Agosto, realizada no dia 19 de Dezembro de 2014 - Fonte: Acervo da Escola

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1 Comentários

  1. parabens para a policia para quem denuncia e para a sociedade.

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